quarta-feira, 28 de agosto de 2013

das escolhas ou dos sentidos das escolhas

o a cinco tons, tem apresentado um conjunto de posts deveras interessantes sobre évora, seja a propósito de uma campanha eleitoral (que é virtual), seja pelas divergências entre famílias (sejam elas sociais, políticas, partidárias, religiosas ou um pouco de tudo isso);
acrescento, pelo que tenho lido e procurado analisar, algumas ideias a uma questão que considero crucial em tempos de eleição e escolha;
nós, alentejanos mais que outros de outras regiões, somos feitos de uma simples massa que nos molda o espírito e cava fundo no coletivo; 
está relacionada com a terra, a sua forma de exploração que condicionou, ao longo de séculos, formas de vida e organização social, quase sempre na extrema dependência de um senhor, fosse ele feitor, manageiro ou simples senhor por via da posse, do nome ou da prepotência; acabados os senhores, por via política e partidária, essa estranha forma de gerir pessoas, definir objetivos e cumprir interesses não se foi, ficou, aprofundou-se e reformulou-se à luz da democracia; foi a vez dos partidos ditarem as suas regras e substituíram, enquanto puderam, os senhores terratenentes; passaram a ser os senhores dos partidos a ditar a organização social, a distribuir benesses e protagonismos, a definir quem é o quê, que limites e que espaço cada um pode ocupar; os senhores, esses, juntaram-se aos partidos, distribuíram-se por eles mesmos, mas recusaram o protagonismo passado, ficaram-se pela reserva, pela sombra, condicionando quem decidia e quem podia decidir; o extremo provincianismo que nos carateriza, marcado pelo nosso isolamento e pela nossa própria ignorância, levou-nos a criar relações pelos apelidos, como se isso, o apelido, valesse, nos identificasse, criasse afiliações; marca tão distintiva de um provincianismo que ainda hoje carateriza qualquer terrinha do interior alentejano; 
é assim desde quase sempre; os diferentes movimentos de revolta nunca passaram de meras formas de contestação, por causa de um mais livre pensador, porque se zangaram comadres, porque alguém tinha olho em terra de cegos; nós, alentejanos, raramente nos revoltámos e, sempre que o fizemos, foi na fuga que marcamos posição, primeiro dos campos para a cidade, depois para o estrangeiro e agora  como antes de nós mesmos com o retorno do suicídio; e assim tem sido na gestão do poder local, de évora ou de qualquer outra sede de concelho; é a zanga de comadres, por via de saias ou de interesses privados, que se alteram lógicas e partidos, se trocam vereadores e se dominam os fregueses;
se é certo que a democracia veio mitigar (e mascarar) esta forma de gestão do coletivo e de definição dos interesses particulares, dando a ideia que o filho do sapateiro podia ser médico ou, no meu caso, o filho de um empregado de balcão podia ser doutor, a liberdade de movimentação foi sempre, mas sempre, condicionada por uma geografia das possibilidades que, ditada por cumplicidades ou simples reconhecimentos, permitia uma certa mobilidade social; o problema foi quando essa mesma mobilidade social começou a confrontar interesses e partidos, a redefinir objetivos e a ganhar massa; aí os senhores, agora alavancados nos partidos, onde garantiram uma ascensão social que de outra forma nunca teriam tido, começaram a reorganizar-se; 
foi um tempo, idos anos 80 do século passado, em que muitos dos poucos livre prensadores passaram por évora e por esta região; não eram pedreiros livres, nem novos cristãos, eram apenas sonhadores que, com a sua utopia ainda muito alimentada por uma revolução que julgaram popular e alguns marcados pelo cosmopolitismo (ao tempo ainda político ou académico) queriam mudar hábitos e modos, mentalidades e culturas; conheci alguns na universidade de évora, nas ruas da cidade, nos cafés, nas esquinas que todos nós frequentávamos, independentemente de crenças e filiações; todos, mas mesmo todos, foram embora passado pouco tempo de gritarem aos céus e se confrontarem com as limitações da sua geografia da ação; é a fuga à previsibilidade; 
os que por cá ficaram foram silenciados, menosprezados, silenciados, postos no seu lugar; 
em tempos ainda julguei, como outros antes de mim, poder mudar rumos e sentidos, também sonhei e também alimentei as minhas próprias utopias, eu e outros; grande asneira; dei por mim a valorizar-me desnecessariamente; pensando que aqueles que falavam depois de mim, me davam importância, me combatiam nas ideias ou nos sentidos; estava profundamente enganado; não me combatiam, não me davam importância nenhuma, limitavam-se a assegurar o seu território, a gerir os seus interesses, a garantir a sua geografia de ação e que não era colocada em causa nem por mim nem por nenhum outro que fugisse ao seu controlo, ao seu protagonismo, à sua influência de senhor terratenente; 
este cenário desemboca, uma vez mais, no confronto eleitoral autárquico onde ganha maior visibilidade na gestão dos interesses, na definição dos candidatos, na limitação dessa geografia de ação onde o senhor condiciona o servo, o põe no lugar; torna-se mais evidente, mas não necessariamente mais claro, a eterna dicotomia entre uns e outros, não obrigatoriamente de esquerda e direita, é vê-los a cruzar partidos; ricos e pobres, azuis e verdes (ou, noutros lado, amarelos); benfica e sporting, norte e sul, etc; é ver os senhores a distribuir as suas pedras, a contarem as espingardas, mas a resguardarem-se na sombra, numa presença sempre muito mais simbólica que efetiva; 
e esta dicotomia ganha espaço também no mundo do virtual, das redes sociais digitais; é ver os amigos, a interação com os amigos, os "gostos" disto e daquilo, aqui e ali, as respostas ou os silêncios, estes tão ruidosos como gritos mudos; tudo sempre alimentado por uma santa ignorância, por vezes dependente, outras subserviente, de uns quantos sempre necessários e mais papistas que o papa nestas coisas de garantir o espaço do senhor; é o provincianismo ignorante na sua mais singela forma; é ver e comparar com outras regiões, não isentas de lógicas de gestão dos interesses mais particulares, como ficou evidente no livro cuja imagem reproduzo, mas são outras as lógicas, são outras as formas de gerir os interesses; este nosso alentejo, esta minha cidade (ou aldeia) tem os seus modos e as suas modas; e não é nem caraterístico nem restringido a uma partido ou coligação; é ver como os nomes se espalham pelos diferentes partidos, como há famílias aqui e alí, à direita e à esquerda, por muito puristas que uns queiram ou pretendem ser mais que outros; 
e agora votamos...

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