sexta-feira, 17 de maio de 2013

coisas da escola com a cabeça noutro lado

os tempos que correm, na educação, são marcados por aquilo que descrevo como sendo algo parecido com desalento, tristeza, desapego, frieza, desencanto, gorar de expectativas e o findar de alguns, ou muitos, dos sonhos que alimentamos - de uma sociedade mais equilibrada e justa, de um futuro progressivo e atingível, reconhecimento do esforço e do mérito; 
a coisa educativa sempre se pautou pelos afectos, pela partilha; recheada de críticas e de censuras, é verdade; nunca as políticas ou os políticos que vigoraram interessaram a todos, o que será normal, digo eu; todas as políticas foram alvo de críticas no contexto do tempo em que surgiram, desde a autonomia à gestão, passando por avaliação ou currículo, formação ou carreira, fosse o que fosse; 
na generalidade das situações apenas passado algum tempo - a necessária estabilidade e o necessário tempo de degustação - tínhamos e sentíamos condições de avaliar, talvez com alguma objectividade o que tinham sido políticas e opções;
contudo, mais do que em qualquer outro sector da administração pública, fizemos e construímos a democracia, se consolidaram valores e princípios de respeito, tolerância, liberdade e democracia; 
mais que em qualquer outro sector da sociedade portuguesa (talvez a par da saúde), não olhamos de onde se vem, mas qual o empenho para se fazer o caminho; 
hoje sinto o pessoal a duvidar do caminho percorrido e muito particularmente do caminho a percorrer; falta uma visão estratégica que permita compensar o empenho dos afectos que, com o assoberbar do trabalho, se esboroam no quotidiano; crescem as situações difíceis de resolver, não direi disciplinares, mas altera-se o sentido e o sentimento de uma ordem, seja ela qual for, para se cair num caos de discussão, negociação, disputa, confronto; a sala de aula tanto é espaço de aprendizagem de alguns, como de mero entretém de outros, de discussão e crítica para uns como de disputa e negociação para outros, um espaço de aprendizagem, formação e conhecimento como um espaço sem sentido nem utilidade; 
falta bom senso para se pensarem alternativas e se recusar a coisa que nos é apresentada (mais horas, mais alunos, mais turmas, mais objectivos, mais funções, tudo com menos condições) como inevitável e incontornável; pensar em conjunto, sabendo as diferenças, mas cultivando pontes e olhares comuns, que existem, com parceiros e parcerias, com actores e vontades; 
em tempos de globalização, em tempos marcados por culturas e redes globais e colectivas, o professor voltou a balcanizar-se, a isolar-se, a distanciar-se de si e de todos, acantonando-se na sua sala de aula na angustia de como gerir o conflito e a tensão de ter trabalhar para resultados com a escola para todos e que a todos tem de responder; os professores distanciam-se de si mesmos, as culturas profissionais, mesmo que débeis, esbatem-se na saída daqueles que tinham uma memória colectiva, na passagem de muitos que pouco se relacionam com a educação e com a angustia daqueles que por aqui andam sem saber o que o futuro les perspectiva;
no meio de tudo isto, pergunto, que geração estamos nós a formar? qual o papel que neste início de século se pede à escola, aos professores e à educação? o que esperam de nós professores, pais e encarregados de educação? como nos vêem eles a nós e à nossa acção/actuação? que queremos nós ser?

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