segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

da falência das elites à falência social

uma qualquer espécie de análise onde procuro relacionar a abulia nacional, ainda que disfarçada por espasmos sindicais ou sectoriais, com o progressivo esgotamento social;
entre uma e outra situam-se duas dimensões terríveis do panorama nacional; por um lado uma mentalidade colectiva criada, fomentada e impregnada por Salazar que temos de ser, à viva força, pobrezinhos, remediados, mas honestos e imbuídos de santa virtude; foi assim que Salazar criou o 10 de junho que não foi abolido mas que nada justifica, foi assim que se criou e fomentou a santíssima trindade de fátima, fado e futebol, que se difundiu a imagem do país retratada pela varina da nazaré, pelo pastor alentejano, pela sardinha ou pelo bacalhau com todos, como se a imagem tivesse estagnada e o interior espaço idílico de virtudes, contraponto ao urbano depravado e pecaminoso; não deixa de ser esta a imagem que se impõe actualmente ao país; de um país que não merecia ser nem rico nem feliz, espaço e condição reservada a apenas alguns; àqueles que se podem dar ao beneplácito de serem misericordiosos na condição dos outros; 
por outro lado, a ausência de elites, sejam elas intelectuais ou sectoriais que permitam tornar colectivo aqueles que possam ser sentimentos individuais, dizer ou escrever o que a maioria pensa e sente mas que não tem espaço ou condição de o fazer ou o de ser reconhecido enquanto tal; as elites andam ou deserdadas ou desfazadas; a desvalorização da dimensão social das ciências, reflectida de forma mais directa na valorização das chamadas ciências naturais (de que são exemplo as "disciplinas estruturantes"), provoca, com propensa intencionalidade, o vazio do pensamento social; alia-se a isso o facto de as ciências sociais que deviam estar na rua, ouvir as pessoas, construir os actores se refugiarem nos gabinetes e nos estudos estatísticos, criando séries onde deviam estar pessoas, definindo análise e rácios onde deviam estar sentimentos e emoções; 
entre algum retorno da mentalidade salazarista, ainda que revestido de outras roupagens, mais urbanas e aparentemente cosmopolitas, com o silênciamento das elites, acantonadas por vontades alheias ao radicalismo partidário, o país vê-se entregue a si mesmo, sem armas nem condições de contrapor alternativas ao sentido único, à verdade proclamada apenas por alguns, ao destino que nos impõem, ao momento do voto, como se a democracia se cingisse, como alguns querem fazer crer, ao voto;
como alternativa torna-se essencial que as chamadas redes sociais (facebook, blogues, twitter, entre outros) sejam utilizadas como espaços alternativos, mostrem outras imagens do filme que nos impingem; mas é no quotidiano, na vida do dia a dia, no convívio que temos de desconstruir as verdades absolutas, os sentidos únicos, o destino que alguns, por força de uma qualquer maioria, nos forçam a viver; 

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