quinta-feira, 4 de outubro de 2012

divagação

pura divagação, puro pretensiosismo, este que me leva ao ensaio de escrita:
Os tempos que correm serão um prec ao contrário, agora da direita. As afirmações, aparentemente inconsequentes e algo despropositadas, mostram que o que está em jogo no campo político não é apenas ideologia e menos ainda partidária. São modelos de sociedade, valores e lógicas de ação que se confrontam. As afirmações de antónio borges, quando disse que os empresários são todos ignorantes, as de carlos moedas ainda ontem evidenciando uma clara birra por a tsu não ter sido aceite pretensamente pelo grupo que suporta o governo, mostra que são modelos, lógicas e valores que organizam o palco político e que a economia vai além do restrito espaço ideológico dos partidos. 
São as velhas elites sociais, vá lá saber-se do porquê, a recuperarem espaço de ação e protagonismo. São as velhas castas sociais que ditam regras; é o mais puro e bafiento ar salazarista que está de regresso; maniqueísta, dicotómico, dialético, de um lado, dos ricos, a cultura, o conhecimento, o poder, o discernimento, a arrogância e a prepotência da ostentação, do outro, do lado dos pobrezinhos e desprovidos socialmente, a ignorância, o confronto, a dependência, o despesismo, a incapacidade de se organizarem, o miserabilismo; entre um e outro dos lados, são valores que se movimentam mais do que simples ideologias, de um lado, os fascistas, do outro, o povo em confronto de forças em que uns concederam, durante uma boa fatia do tempo desta república, a sensação que o povo mandava. 
Puro engano, manifesta ilusão. Fartos do seu próprio engano, esgotada a ilusão, eis o regresso das velhas castas sociais, da organização social em fatias, dos estratos da velha senhora do antigo regime, esse mesmo que pretensamente terá ficado por 1789 na europa ou em 74 em Portugal; são as ordens sociais que retomam as suas posições e re-assumem o seu protagonismo político, já que o social nunca o perderam, agora travestidos no discurso do irs; uns, as ordens superiores, com direito a tudo porque sim, outras, as do povo, desde que façam por merecer e sejam reconhecidas nesse merecimento, seja a saúde, a educação ou a segurança mais básica, coisas perfeitamente prescindíveis, despiciendas à governação, à boa governação dirão aqueles que são os conhecedores. A educação, essa velha malapata da democracia, assume o seu papel, reservada que está a apenas alguns núcleos, com nichos de abertura para parecer democracia. É o regresso não só da méritocracia, mas também do elitismo, do sectarismo, da subserviência, do medo, do darwinismo social, isto é, da seleção que alguns apregoarão de “natural” feita pelos resultados escolares, pelas competências educativas, pelas capacidades individuais. 
A História, a nossa História nacional, mostra que o povo se aguenta ou, melhor dito, se vai aguentando como pode. Sofre no silêncio do seu regaço. Ao contrário do que o senhor primeiro ministro apregoou não é piegas. Sofre de mansinho, os comentários são feitos com a/o parceira/o, tenta-se não se envolver os filhos, a ignorância é santa. Para os outros disfarça-se, melhor ou pior, finge-se, brinca-se com coisa séria, contam-se anedotas, desenham-se caricaturas à falta de outras oportunidades não vá o patrão, o chefe ou a puta que o pariu pensar que estamos a falar a sério. Espera-se por melhores dias que a esperança e a ansiedade diz que virão, um dia. Contudo, esgotada a paciência, despendidos os últimos esforços para garantir o sucesso de todos os outros menos o seu, o povo manifesta-se. Habitualmente nas ruas, desde a Patuleia ao 25 de Abril de 1974, passando pela sargentada e pelo 31 de janeiro de 1891 ou pela implantação da república. Antes, nesses tempos que uns dirão afastados e distantes, sossegando-se com a aparência do tempo, o tempo corria muito mais lento, as notícias levavam muito mais tempo a percorrer as azinhagas do país, os fazedores de opinião estavam todos juntos, fáceis de controlar e localizar. Hoje o tempo corre célere, as opiniões espalham-se pelas redes sociais, o cochicho da taberna dá lugar à partilha de ficheiros por correio eletrónico e o povo, essa massa aparentemente desprovida de sentido e de lideranças, não é ignorante como o foram os meus pais e, muito particularmente, não tem medo.
Onde nos levarão estes tempos...

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