quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

a propósito de um percurso curricular alternativo

na sequência da minha anterior entrada digo, ou repito, que tenho tido o privilégio de acompanhar e estudar a implementação de um percurso curricular alternativo (pca) na minha escola; 
estes percursos, criados nos idos anos 90 do século passado (decreto-lei 22/seei/96) e atualizado a meio da década de 2000 (despacho normativo 1/2006) e aproveitado pelo atual governo (no âmbito do currículo, decreto-lei 139/2012) visam jovens com insucesso repetido, risco de abandono ou problemas de integração social; 
na altura da sua revisão tive oportunidade de dizer ao então secretário de estado que gostava mais de uma escola alternativa que de um currículo alternativo, na falta de um havia que aproveitar o outro salvaguardando alguns aspetos; 
o grande problema das ofertas complementares ao ensino regular (caso dos pca, cursos educação e formação ou, mesmo, cursos profissionais) consistem na sua estigmatização e na estigmatização daqueles que os frequentam; aparentemente mais não são que guetos escolares e educativos onde se reúne a população problemática de uma escola, isto é, são «projectos que acrescentam mais ao mesmo e [não] projectos que ajudem ao refazer de modos e conteúdos de trabalho com os alunos»; nesta medida e habitualmente, estes grupos são olhados por quem frequenta a escola com desconsideração, os docentes sentem a angustia de trabalhar com turmas difíceis, os restantes alunos o receio de frequentarem o mesmo espaço e os pais/encarregados de educação deixam as críticas e os comentários ao ambiente que se faz sentir; aparentemente ninguém, mas mesmo ninguém, nem mesmo aqueles que constituem o grupo , gosta deste tipo de ofertas;
a minha participação, num assumido processo de investigação-ação com alguns retoques de formação-ação,  vai ao encontro de duas preocupações; por um lado, participar no processo de avaliação interno, aferindo as situações e contribuindo para a sua dimensão organizacional no próximo ano letivo; por outro lado, aproveitar as dinâmicas de conflito resultantes da relação instituída entre alunos e docentes deste grupo enquanto elemento potenciador de mudança, seja ela aquela que acontece em contexto de sala de aula, seja em termos organizacionais, nomeadamente no envolvimento de estruturas, na gestão de recursos ou mesmo na definição de competências inerentes ao currículo; 
enquanto elemento potenciador de mudança, um percurso curricular alternativo tem, desde que aproveitado e canalizado nesse sentido, tudo o que é importante para a mudança; tem conflito, pois em tempo de paz ninguém mexe palha, não se sai da zona de conforto, tendemos à estabilidade e equilíbrio situacional, coisa ausente num pca; apresenta um manifesto desequilíbrio com a escola dita regular, isto é, a população carece de outras estratégias, outras metodologias, outras dinâmicas em contexto de sala de aula, seja por via do aproveitamento, que é sempre muito, muito baixo, seja por via do constante desafio, quando não mesmo conflito, que se institui entre autoridade (docente) e rotura (aluno); exige-se imaginação, pois o aluno não responde como o aluno de um curso regular, é sempre mais imprevisível e inconstante na resposta ou na adesão às propostas de trabalho; é volátil, tudo se passa de repente, seja pelo conflito, seja pela surpresa com que as coisas acontecem; há partilha, os docentes, por via administrativa, isto é, obrigatória, ou voluntariamente, falam sobre os seus problemas, trocam ideias, partilham recursos e, por vezes, definem estratégias; há avaliação, mais não seja porque se é obrigado a apresentar relatórios das estratégias e da análise da situação dos alunos, individual e coletivamente; 

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