domingo, 17 de julho de 2011

análise

o miguel tem uma entrada digna de reflexão; 
perante os resultados das provas de aferição e dos exames nacionais, não há cão nem gato que não procure causas, culpados, circunstâncias directas ou indirectas, internas ou externas, endógenas ou exógenas para os resultados;
faço parte desse coro e procuro, perante os elementos que tenho, perceber algum dos porquês; 
o miguel tem toda a razão quanto ao papel do conhecimento na justificação do que que quer que seja, também o conhecimento, por muito científico que se afirme, carrega em si ideias, valores, crenças quando não mesmo modelos que, para o bom e para o mau, condicionam perspectivas e destacam uns lados em detrimento de outros e, assim, condicionam ou procuram condicionar a decisão política; 
já não terá tanta razão no título da sua entrada, em que afirma que conhecimento e política se jogam em campos diferentes, aí discordamos e daí este meu comentário;
conhecimento, política e decisão não são caminhos lineares nem assentam naquelas pretensas racionalidades weberianas de uma burocracia organizada a que uns compete uma coisa e outros outra; hoje há uma imbricação conjunta de situações e a decisão nunca se finaliza é sempre e apenas um dos processos, uma etapa entre muitas outras; 
temos tido, nos últimos anos, a prevalência de um dado conhecimento no apoio à decisão política; hoje temos um outro; nada tenho em que a política se apoie no conhecimento para a justificação ou legitimação da sua acção [só a título de exemplo espreitem este sítio sobre as relações entre conhecimento e política]; já tenho algum problema quando a política se mascara de cientificidade para fazer... política;
nem o conhecimento é asséptico nem a política (ou, pelo menos toda a política) está conspurcada; 
e os resultados das provas são disso exemplo; não basta definir uma qualquer cientificidade para que apareçam resultados, a educação e o ensino em particular, têm em si demasiadas variáveis para que possam ser controladas laboratorialmente; isolamos algumas, mas lá aparecem outras, controlamos outras, enquanto outras divagam por entre os resultados; 
numa perspectiva de análise considero que os resultados decorrem de duas ordens de razões; uma de organização, o sistema continua a ser mexido incessantemente não permitindo estabilidade e coerência na acção educativa e, nos últimos anos e pelo que se perspectiva nos próximos, assim continuará; não há instituição, empresa ou organização que consiga coerência de resultados no meio da balbúrdia e da confusão; precisa-se, com urgência, de estabilidade, de pequenos acertos e rectificações, pois as grandes reformas, bem ou mal, foram feitas; mas organização também ao nível da escola e da sala de aula que permanece em estrutura típica dos anos 80/90 do século passado, desfasada, desadequada de um tempo marcado que é pelas redes, pelas heterogeneidades, pela diversidade e pela multiplicidade; circunstância que é, para todos os efeitos, o grande mote na argumentação dos professores
e é este que me remete para o segundo factor com interferência directa nos resultados, a formação; há muitos e alguns muito bons profissionais, novos e menos novos, gestores e docentes, pessoas que amam aquilo que fazem e se dedicam de corpo e alma ao que fazem; mas não é de voluntarismo que a educação precisa, é de profissionais, que não se fiquem pela formação inicial e por uma ou outra medida avulsa, por obrigação, da chamada formação contínua; formação contextualizada, situada, adequada, sem a crença que existem milagres para resolver a indisciplina, o desinteresse, o alheamento ou a indiferença do aluno perante aquilo que o professor tem para dizer; uma formação que permita pensar, local e contigencialmente, perspectivas, hipóteses, tentativas de levar o aluno ao objectivo de toda a escola, a sua formação; uma formação que fomente o trabalho colaborativo, mas não caia na reunite aguda, que acentue as parecerias, sem fazer delas uma linha hierárquica, que promova o trabalho de equipa mas saiba respeitar as individualidades, que promova um espírito comum, sabendo-se da necessidade de espaços pessoais, que articule e potencie, em vez de minimizar ou reduzir; 
entre organização e formação na região nota-se o desfasamento entre uma e outra, patente no alheamento das instituições do ensino superior público na imbricação com o quotidiano educativo; os teips regionais são acompanhados por instituições de lisboa, setúbal ou faro, incrível; o mais sucesso, que tem um docente da universidade de évora como principal teórico e responsável, anda a milhas das escolas;
neste processo não aponto um dedo a um culpado; há culpados, vários e com várias implicações, o certo é se acentuam diferenças e se percebe que, afinal, a escola não é assim tão pública e que a licealização permanece, quando não se reforça; 
sinceramente teria muito mais para escrever, fico-me por aqui, pois não estou habituado a posts tão extensos; mas é de análise que se trata...

1 comentário:

Miguel Pinto disse...

"já tenho algum problema quando a política se mascara de cientificidade para fazer... política;"
Esta é a razão do título, talvez infeliz, mas é precisamente este o sentido que lhe quis atribuir. Abraço.