sexta-feira, 23 de maio de 2014

dos professores - ânimos e espíritos

dois dias e duas manchetes sobre professores; cada qual com a sua história, cada qual apoiada e escondendo milhares de histórias;
gostava de ter condições e ser capaz de comentar e escrever sobre as notícias de acordo com duas perspetivas, uma a minha, de professor, de envolvido e enleado em toda esta sina social e profissional; uma outra para todos aqueles que olham a escola por aquilo de que se lembram, pela sua passagem por lá, pelo seu papel de aluno ou pela perspetiva dos pais;
deixo apenas um comentário para que se leia de acordo com o referencial de cada um, a sua experiência e possibilidade;
direi que a avaliação de desempenho deixou marcas pesadas e profundas nos professores; mas a coisa já vem de mais atrás;
os professores têm tido e sentido manifestas dificuldades em lidar com a heterogeneidade da população escolar, com a concorrência colocada à escola pelas redes sociais, pela wikipédia, pela televisão;
temos tido e sentido manifestas dificuldades em lidar com grupos diferenciados em tudo, nos interesses, nas preocupações, nos objetivos ou na sua falta, na participação dos pais, mesmo quando não participam;
tido e sentido dificuldades em gerir um currículo muita das vezes desajustado, desadequado, extenso, complexo e problemático;
que dizer da indiferença, do alheamento e do desinteresse dos alunos, mas também a incompreensão de outros grupos sociais e profissionais; do isolamento a que nos votámos e a que fomos obrigados; da ação sindical que defende posições individuais, olha o instantâneo e esquece, estrategicamente, o dia seguinte, os tempos que se seguem;
a coisa vem de há muito, marcada por duas ou três situações, que não explicamos nem entendemos;
uma formação desajustada do contexto escolar; uma formação inicial que valorizou dimensões sociais, hoje questionada e desafiada pelo neo liberalismo serôdio, cego e darwinista;
um conjunto de políticas que obrigaram a escola (entendam-se os docentes) a assumir papéis, funções e objetivos que não são nem pedagógicos nem curriculares, o caso do papel de guarda das escolas, de sensibilização e formação cívica e de cidadania, os inúmeros problemas sociais a que a escola tem de dar resposta;
finalmente, direi que não é de motivação ou de falta dela que os docentes evidenciam; pelo que consigo perceber e ver é de desencanto e desilusão; primeiro nos políticos e nos governos, deram a maioria ao ps e foram sacudidos pela reconversão social e profissional da escola; votaram psd e cds e sentem-se enganados; como se fossem os outros os responsáveis pela sua vida, os docentes que há muito abdicaram da sua autonomia, por interesse, por lógicas momentâneas e circunstanciais; mas desilusão e desencanto também da e na sua profissão, na gestão e nos diretores; nos tempos e no (não) reconhecimento social, como se os outros não nos percebessem, nós que não nos entendemos;
e seja motivação, interesse ou ilusão, reflete-se na geração que formamos, na atitude e na dinâmica de sala de aula, na organização de respostas, na identificação dos problemas

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