quinta-feira, 28 de março de 2013

currículo vocacional

enquanto me entretenho a ler e a trabalhar sobre currículo alternativo, a partir do decreto-lei 6/2001, revisito um outro diploma, já deste governo, referente ao dito ensino vocacional;
o que nele encontro mais não é que uma proposta da tutela de ou para a flexibilização curricular que, se pode ser bem entendido pode ser mal praticado; 
os professores têm receio de fugir ao manual, à pretensa segurança e conforto da garantia do programa; a gestão não tem ideias para organizar a escola de outra forma ou de outro modo que não passe pela industrialização do grupo/turma sequencial; se caírem, como já aqui referi à altura, no aproveitamento das franjas criando uma diferenciação sectária, então perde-se uma oportunidade de as escolas serem espaço de acção e não já de reacção; 
tenho é dúvidas que consigam fugir aos argumentos da segurança e da funcionalização...

quarta-feira, 27 de março de 2013

projecto de intervenção

projectos de intervenção para escolas e agrupamentos é coisa que não falta por esta internet fora; 
faltam, isso sim, ideias de escola que incorporem e articulem pessoas e números, lógicas pedagógicas e lógicas administrativas; 
reconheço que não é fácil pensar e menos ainda escrever de forma mais ou menos clara uma ideia de escola que cruze as diferentes dimensões, a administrativa, que vai da acção social escolar ao processo de avaliação dos assistentes técnicos e administrativos, passando pela gestão financeira, pedagógica onde se cruza a sala de aula com ofertas complementares de educação e projectos pedagógicos, resultados escolares e participação social, ou e finalmente, funcional, onde se identifiquem elementos que reforcem ou promovam o simples funcionamento de uma escola sem ser autofágico, ou seja, que não olhe ao umbigo em detrimento de tudo o mais; 
pois é, para que saiba eu tento cozinhar um projecto de intervenção, mais cedo do que pensava, mas é mesmo a única alternativa em me aproximar de casa, pois estou afastado mas não o suficiente para recair em eventuais bonificações;
se não for aceite, sem problema, não reclamarei...

tacanho

as visões sobre o papel dos professores e da escola que nos vem da cinco de outubro é manifestamente tacanho; seja deste ou de outros governos e ministros que antecederam o actual;
não discuto se há professores a mais ou escola a menos, se recursos em excessos ou escassez de alunos, o que discuto é mesmo a visão tacanha da escola em que uns impõem e determinam o que outros devem fazer e como fazer, garantindo, independentemente do partido que gere a educação, a centralização, a mão na coisa, não vá ela descambar;
tenho sérias dúvidas que descambase, mas enfim...
não poderiam docentes que, colocados na escola, podem estar sem componente lectiva, assegurar trabalho na área dos apoios, na organização de projectos entre a escola e o meio, na estruturação e organização de ofertas complementares, em estratégias de informação e comunicação, no apoio a directores de turma ou a turmas? poder poderiam, mas ninguém os quer, nem os directores, que coitados não têm visão para tanto, nem o ministro em que reduzir e cortar são palavras de ordem...

(re)começo pelo lado menos bom

é verdade, digo que estou curioso por aquilo que poderá não ser dito na entrevista de josé sócrates, qual filósofo que aponta a luz no meio das trevas de uma primavera que tarda em nos dar a ilusão da claridade;
não tenho dúvidas que a fronteira entre bestial e besta desta figura é muito, muito ténue e que muitos irão dizer e falar apenas para não ouvir o que a figura terá para dizer...
é diferente, uma situação manifestamente diferente esta de termos um ex-primeiro-ministro que dá entrevistas; antes, com soares ou cavaco, assim não aconteceu, um e outro remeteram-se a estratégicos silêncios que os levaram, a um e a outro, a belém e à presidência da república; os demais foram para partes incertas com a certeza da sua tranquilidade conquistada longe de portas; 
hoje como será? mais do que hoje gostarei e apreciarei os impactos da coisa nos dias que se seguirão, para um lado, da actual posição e confortável maioria, e do outro, da presente oposição, nomeadamente do meu ps...

terça-feira, 19 de março de 2013

pensamento estratégico

no final do século passado houve um período que se anunciou a saída do actor, saída do palco da acção condicionado que estava pelas estruturas; posteriormente foi anunciado o seu regresso, como elemento fundamental e estratégico da acção organizacional;
durante longo tempo a sociologia assumiu, em diferentes contextos e sob diferentes perspectivas, o papel estratégico dos actores, na definição de objectivos, no seu pensamento estratégico, na definição da sua acção, na gestão tanto de objectivos como de interesses; 
há medida que observo o contexto educativo, isto é, as escolas, vou-me apercebendo da ausência dessa dimensão estratégica (não pretendo generalizações, sempre redutoras quanto abusivas, restrinjo-me aos contextos por onde ando e estudo, como em tudo, há excepções)
raramente se nota um pensamento estratégico, um pensamento que consiga ir além da ponta do nariz de quem o pensou; a gestão, habitualmente, anda preocupada com as moengas do dia a dia, os constragimentos do momento ditados que são pela inúmera papelada ou plataformas a preencher; as estruturas intermédias ocupadas em não fazerem nada mas darem sempre a ideia que andam muito ocupadas e atarefadas com coisas importantes que poucos conhecem e ninguém valoriza, a não ser os próprios; os docentes sempre atarefados com as suas aulas, as situações de indisciplina, os testes, as reuniões sempre parvas, tardias e desnecessárias; 
em termos de reuniões é um vazio quase que constrangedor; a economia de uma reunião é despendida entre informações que facilmente circulariam por caixas de correio electrónico (diga-se que não são tão generalizadas quanto se possa pensar, pelo menos na consulta e gestão), situações pontuais ou casuísticas que não matam mas moem e desgastam, consomem tempo e recursos, análises que podiam e deviam ser feitas noutros contextos mas que, por questões de protagonismo ou simples ineficácia são levadas a um colectivo que se questiona sobre a sua importância ou pertinência; 
o que resta? o dia a dia, a reacção em detrimento da acção, a resposta em vez da pergunta, a conformidade em vez da criação, a justiça em vez de se ser justo; marca-se passo...

"piquinino"


O miguel, talvez regressado, deixa uma boa repescagem de uma entrada sua; 
como não consigo deixar ali comentários, faço-o pelo meu cantinho;
há já algum tempo que defendo que as semelhanças do portugal contemporâneo com o portugal da segunda metade do século xix se deve a uma única razão: portugal não mudou; mudamos, é certo, roupa e tecnologias, gadjets e modismos, algumas terminologia, mas o essencial - mesquinhez, egoísmo, sobranceria, estupidez, falta de formação - está lá como no século xix;
agora também considero que a prosa do miguel, para além das características que sempre a marcaram, enforma de uma coisa, é demasiadamente rebuscada para a realidade, esta, a realidade escolar, é mais comezinha, mais "piquinina", mais rudimentar; o pensamento estratégico está, o mais das vezes, completamente afastado das tricas e baldrocas da sala de professores, o que impera é mesmo a mesquinhez e a estupidez embrulhada em feitios mais ou menos hipócritas, muito embutidos na ignorância de alguns licenciados; 

segunda-feira, 18 de março de 2013

da falta de formação à rigidez da "gramática escolar"

acompanho um processo de implementação de um percurso curricular alternativo (PCA); 
estou interessado, essencialmente, em perceber como as teorias e as práticas pedagógicas produzem pessoas ou, mais adequadamente, se lida com a diferença, com as franjas educativas; 
apercebo-me de:
  • das dimensões doméstica e familiar da relação pedagógica - os professores querem ser bem vistos pelos seus alunos, têm um trato afável, afectivo, direi familiar, quase que maternalista; [péssimo no contexto de um PCA];
  • há quem assuma que não foi "formatado" para aquilo, como se alguém tivesse sido formatado para alguma coisa -evidencia-se, por palavras próprias, a necessidade de formação docente, que não se fique pelo corte e costura, mas ajude os docentes a pensar;
  • a pensar, pois o professor vê-se e retrata-se, em grande parte dos casos, como um executante, alguém que implementa ordens, dá consequências a decisões tomadas por outros - daí (re)quererem-se, muitas vezes, soluções à medidas, milagres profiláticos da acção de sala de aula, a uniformização excludente, a redução do número de alunos por turma, o controlo possível das variáveis;
  • entre falta de formação e a execução o docente tem, no caso, manifestas dificuldades de gerir, lidar e organizar a imprevisibilidade - logo o docente que é dos poucos profissionais mandado tratar com dezena de clientes de uma só vez; 
  • entre umas e outras e perante o meu interesse/objectivo [como é que as teorias e as práticas produzem pessoas], o docente acaba por formar, nem sempre de forma deliberada, é certo, algumas vezes de modo claramente inconsciente, um aluno submisso, sub alterno, dependente, executante, obediente, passivo, operário; reduzem-se assim as possibilidades de futuro do aluno que fica manifestamente condicionado pela escola que cerceia e limita oportunidades e não, como devia ser, alargar horizontes e possibilidades, ampliar vontades e objectivos;
  • todas juntas evidenciam a rigidez daquilo que alguém definiu como "gramática escolar" isto é, as invariantes educativas que petrificam o pensamento e naturalizam o que sempre foi e é uma construção ideológica; 

Os resultados, ainda muito parciais, não podem ser generalizados e qualquer tentativa de enquadramento de outras situações neste contexto requer cautelas e muitas ressalvas; 

ausências e presenças

tenho estado ausente por opção, senti que começava a escrever para demasiados passantes, alguns curiosos, é certo, outros mais atentos; mas a quantidade inibiu-me de escrever, pelo menos de escrever o que quero;
agora, quase em pausa pedagógica, talvez regresse... ou não;
discorrer sobre a coisa educativa é interessante, mas é um exercício que, sem consequência, se pode facilmente transformar em masturbação intelectual, o que não pretendo; 
é certo que registo ideias e os meus sentidos, as minhas preferências e as minhas opções (sejam elas quais forem e para o que se quiser); mas e depois? escrever para dar conta de outras perspectivas, pode sempre ser aliciante, mas depois fico inibido pelos passantes;
são as minhas próprias contradições, entre ausências e presenças;