há dias escrevi aqui e propus ao jornal da terra a publicação (que não aconteceu) de duas notas sobre elites e sociedade; retomo a escrita;
um pouco por todo o lado se mostram e evidenciam as notas do cansaço social, que leva a situações extremas, da impaciência, que conduz à intolerância, da insatisfação, que conduz ao repúdio;
um pouco por todo o lado se nota o descontentamento, mas também a incapacidade de alternativas, sejam elas quais forem, políticas ou partidárias, pessoais ou profissionais, sentimentais ou afectivas, estamos enleados em nós mesmos, nas tramas do nosso desígnio, maios prosaicamente, deitamo-nos na cama que fizemos;
os partidos debatem-se no lamaçal que criaram (razão teve guterres ao referir-se ao pântano), os governos evidenciam o seu esgotamento e a democracia corre o sério risco de se ressentir e trazer para a boca de cena tristes figuras míticas do apocalipse;
não temos quem nos ajude a pensar, ou temos, mas estão de tal modo pulverizados por aí que se torna difícil distinguir o trigo do joio; a cacofonia é de tal modo ensurdecedora que os argumentos se fazem valer pela gritaria, pelo esbracejar, como se isso servisse de argumento ou justificação;
quase todos se fecham, qual concha, na procura do seu espaço de conforto e segurança, na tentativa de, por um lado, ver passar os outros enquanto os cães ladram; por outro lado, procuram passar despercebidos como se nada fosse com eles, ignorando responsabilidades e enjeitando culpas;
évora está assim; está assim a modos que... debilitada, frágil, insegura, inconstante;
o alentejo está assim, cinzento, frio, húmido;
o país está assim, insustentável, impaciente, cansado, senão mesmo esgotado;
a europa está assim, duvidosa, insatisfeita, incapaz, receosa;
o mundo está assim, em corda bamba, no fio da navalha, à espera, a ver o horizonte;