quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

pormenores

ao fim de mais de seis anos de trabalho, acerto pormenores na minha tese de doutoramento;
não é ainda o final, algo ainda distante, há que passar pelo crivo do orientador enquanto documento completo ao qual faltarão certamente acertos e complementos;
mas é uma sensação de descanso, de serenidade que se apodera da minha pessoa; 
finalmente estou nos pormenores...

problematizando

desde de antes do natal que ando a querer comprar dois títulos que me fogem por entre os dedos; pela minha cidade não os encontrei, apesar de alguma insistência; pela capital entrei numa das grandes livrarias e acabei por sair com um terceiro (e sem os dois que procurava) que nem sequer me lembrava dele, apesar de o ter visto, há tempos atrás, num escaparate; 
já o percorri quase de ponta a ponta; VMG não necessita de apresentações, para quem é de história e aprendeu, nos bancos da universidade, o que eram os complexos histórico-geográficos, entre outros argumentos que trouxe à interpretação do processo histórico nacional, longe, muito longe, dos ditames de então; 
neste livro, entre ensaio e sebenta, mostra que, ao contrário do que nos querem impor, o presente não tem nada de "natural" nem de destino incontornável; são fatos e dados construídos com intencionalidade e propósito, é certo que nem sempre conhecidos e menos ainda reconhecidos por quem de direito; 
mais do que nos ficarmos pelo fado ou pela impotência incapacitante, há que problematizar, questionar os fatos do dia a dia que fazem e constroem a sociedade para que a possamos compreender, mas também criar alternativas; 
em tempos em que nos fazem crer (é mesmo uma questão de fé que se trata) que não há alternativas - ao despesismo do passado (mas que nos permitiu, depois de todos os outros, assegurar o Estado-Providência, reduzir diferenças sociais e políticas, cimentar a cultura como elemento estratégico), às opções neo-liberais (como se fosse agora, mais do que antes, o fim da história) - é imprescindível re-ler a história e a sociologia para perceber e saber para onde queremos ir...

estratégia

em pausa pedagógica, com muito pouca gente na escolinha e poucas ou nenhumas solicitações de quem quer que seja, há tempo para pensar os resultados do 1º período, compará-los com as tendências dos últimos 4/5 anos no mesmo período, perspectivar os resultados dos mesmos alunos entre o final do ano letivo transato e este 1º período;
não sou pessoa de números nem de resultados, como já me apontaram, mas são indispensáveis para se poder reequacionar a estratégia dos processos, pensar em formas de organizar apoios, a quem precisa e porque mais precisa, gerir recursos e perspetivar outros resultados; 
descobri que pela minha escola a tendência é pior no 1º período que nos restantes, contrariando um pouco a estatística geral - não há regra sem exceção; permite-me descobrir e ver outras realidades que se escondem na sala de aula todos os dias, nas práticas pedagógicas do quotidiano, nas relações entre alunos e professores; ver os "efeitos" de exames, de disciplinas de primeira e as outras, o final de ciclo, o papel dos diretores de turma, entre outros;
irá dar oportunidade a uma troca de impressões com outros elementos, de modo a que se possam pensar, coletivamente, estratégias e a re-organização de alguns processos; 
vamos ver como corre;

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

produtividade

só com uma participação previamente assumida de assética e inócua se pode apresentar uma ordem de trabalhos para uma assembleia municipal com 10 pontos, entre os quais o orçamento e as opções do plano, empréstimos, o documento sobre a reforma da administração local, participação no irs, entre outros; 
não se discute, apenas se delibera, com serenidade e pacatez; 

assembleia

não pretendo recriar este espaço como área política, mas não resisto há tentação de comentar uma assembleia municipal onde se faz sentir o eu quero, posso e mando, descricionário e prepotente; a oposição é suportada, nem sequer tolerada, nem vislumbre de faz de conta; 
questiono os elementos eleitos sobre o porquê de hoje apresentarem uma deliberação sobre a reforma do poder local quando, antes, votaram contra a realização de reuniões da assembleia pelas freguesias, de os presidentes das juntas decidirem onde se coloca o contentor do lixo;
é uma profunda e significativa diferença entre aquilo que se diz e aquilo que se pratica; 

proposta

sob o ponto de vista de um elemento do órgão de um gestão, a proposta de revisão curricular (para além de qualquer consideração sobre o fato de a montanha ter parido um rato, que vai roer muita corda) considero que uma de duas situações se poderão passar:
a) os senhores diretores descartarem-se de qualquer responsabilidade, delegando, eventualmente, nas pseudo estruturas intermédias; decidam que eu aprovo e implemento;
b) assumirem-se decisões com laivos de arbitrariedade e alguma descricionaridade, do género artº 20º do decreto lei 75/2008, competências do diretor, eu quero, posso e mando;
considero que pode haver um meio termo, discutir-se uma proposta de escola, com base nos recursos e nas opções a assumir, justificar procedimentos com base nas opções; 

tá se bem

tenho, sinto algumas dificuldades em ser corporativo; no que toca à classe defendo-a, ainda que com salvaguardas; quanto aos senhores diretores, nada aponto, a não ser o tempo, jurássico, em que muitos perduram nos cargos e nas funções;
apesar das políticas ou do que seja, os diretores do alentejo fazem questão de afirmar, defender e justificar que, por cá, tá-se bem, obrigado, é o caso do comentário do senhor presidente da associação de diretores das escolas públicas quando afirma ter "reclamações vindas de quase todas as regiões do país: “A única excepção é o Alentejo"; tá-se bem...
reclamar para quê? ainda viam o que por cá se passa... ou não...

domingo, 11 de dezembro de 2011

defensiva

uma das situações que mais sobressai perante a gestão é aquilo que designo como pedagogia defensiva;
na generalidade os docentes apresentam as suas ideias de modo defensivo, como que resguardando-se perante situações que uns invocam como se de papões se tratasse - os pais, a inspecção, a tutela, os exames;
invocam-se desculpas, modos de agir que procuram a defesa de uma posição e não o risco de se assumir uma postura diferente; faz-se assim porque sempre assim foi, não se alteram estratégias para evitar contratempos, complica-se em vez de se simplificar para que haja coisa escrita que resguarde, salvaguarde, proteja, etc;
a pedagogia defensiva, mais que um contratempo, é um módus de acção docente que perpetua situações, erros; que faz com que não se alterem estratégias nem metodologias; torna quase que inviável pensar outras formas de se ser docente; está de tal modo entranhada que quase parece fazer parte do adn profissional; 

domingo, 4 de dezembro de 2011

inevitabilidade

da economia à educação, passando por qualquer sector querem-nos fazer crer, querer e pensar que o mundo é inevitável, que o fim da história, há muito anunciado, está cada vez mais próximo, que não há alternativas aos designios do destino, a esta marcha dos mercados, como se estes fossem gente, dotada de sentidos e qualidades próprias;
não acredito no destino, como não acredito em coincidências, acredito na vontade das pessoas que fizeram revoluções, que morreram por defender ideias e ideais, valores e conceitos de vivermos juntos; acredito em todos aqueles que se debatem por pensar que existem outros modos, que os tempos não são de uma inevitabilidade absoluta, que existem outros modos, formas e maneiras de sermos e fazermos;
também a escola, mais do que a educação, se debate com a inevitabilidade, como se não existissem alternativas; mas existem, estão dentro de nós, da acção colectiva de nos pensarmos e decidirmos qual o caminho a percorrer; existem alternativas nas práticas que muitos assumem há muito, de encorajamento, apoio, criatividade, de emoção e tensão que rodeia uma prática profissional feita com, por e para pessoas; 
saibamos aproveitá-las e termos pelo menos uns vislumbres de outras formas que contrariam a inevitabilidade que nos apregoam; 

criatividade

na posta que está abaixo, deixo uma outra perspectiva, pela qual seguirei, sem qualquer sentimento de fidelidade, na escrita dos próximos tempos, a perspectiva de um professor que está, temporariamente, num órgão de gestão;
um dos desafios que enfrento diz respeito à criatividade; saber aproveitar a criatividade de uns e de outros, o mais das vezes individual, para a colocar ao serviço de um grupo mais geral; criatividade em pensar outras formas de fazer o mesmo, de dar espaço, tempo e oportunidade a que nos pensemos e pensemos aquilo que fazemos, como fazemos e para quem fazemos; criatividade em definir oportunidades que outros saibam aproveitar e promover; criatividade em recriar aquilo que li numa acta e que alguém designou como «espaço/tempo de vivências e realizações»; criatividade em apoiar quem faz, ajudar quem precisa, facilitar modos e procedimentos sem que pareça determinação, assistencialismo ou mera arrogância pretensiosa; 
criatividade para ser criativo; 

resistência

por manifesta opção tenho escolhido não escrever;
em tempos em que a crítica se afigura fácil, prefiro remeter-me ao silêncio e ouvir os adizeres de outros;
a dúvida tem balanceado entre o retomar normal da escrita e adoptar uma reconfiguração, relativa às funções que desempenho; sempre seria uma outra perspectiva sobre a escola;
mas resisto, não tenazmente; resisto e pronto;
abdiquei de uma escrita pública, para me dedicar a escrever, como sempre o fiz, para os meus botões; a cacofonia é tanta que se perde o fio à meada e se torna difícil ouvir o nosso pensamento, quanto mais o pensamento dos outros;
apesar desta leve resistência, duas notas;
uma da missa a que fomos convidados a participar no decorrer da semana; primeiro pelos lados de beja, depois pelo norte alentejano e, finalmente, pelo alentejo ainda central; uma missa onde se revela a dimensão institucionalista que a educação adquire, a sua formalização em torno da instrução; chamados para nada, tudo o que se queira é de aguardar;
uma segunda nota para a rigidez da chamada gramática escolar; sou, de momento, presidente de uma comissão administrativa provisória, regressei à gestão escolar passados quase 20 anos; está tudo na mesma? não, não está, mas a gramática, aquilo que se diz e pratica não é assim tão diferente do que era à quase 20 anos atrás; permanece a centralidade do presidente do órgão, o eterno debate infindável sobre os problemas, algumas visões utópicas da escola enquanto fuga e resistência e esquecendo-se a pequena realidade, apregoando a sua dependência ao sistema, promovendo o esquecimento de muitas das possibilidades que existem no dia a dia; culpa minha, pois claro, e os órgãos da escola ainda parecem funcionar como há 20 anos atrás;